Poéticas do espaço doméstico: feminismos maternos arrombando as portas das casas nas artes visuais
Capítulo de livro publicado em formato e-book pela Editora da Universidade de Brasília (Editora UnB), "Maternidade, parentalidade, família e temas transversais." A obra reúne reflexões de um coletivo de mulheres sobre os desafios e experiências de ser mãe, acadêmica, cientista e intelectual na universidade, contribuindo para o debate sobre maternidade, gênero e produção científica. A publicação está disponível para acesso público nos links abaixo:
🔹 Portal de Livros da UnB: https://livros.unb.br/index.php/portal/catalog/book/680
🔹 Repositório Institucional da UnB: https://repositorio.unb.br/handle/10482/52995
BORGES, Clarissa M.; GUIMARÃES, Marta M. Poéticas do espaço doméstico: feminismos maternos arrombando as portas das casas nas artes visuais. In: Maternidade, parentalidade, família e temas transversais [recurso eletrônico] / (Organizadoras) Hayeska Costa Barroso … [et al.]. ‒ Brasília : Editora Universidade de Brasília, 2025. 194 p. - (Extensão Insurgente).
RESUMO:
Seria possível pensar uma poé
tica doméstica materna? Como a maternagem pode construir novos caminhos para o pensamento e a fenomenologia do espaço? Para as duas pesquisadoras, artistas e mães, escritoras deste texto, voltar a ler Poética do espaço de Gaston Bachelard (1998), bibliografia frequente nas Artes Visuais foi impactante. As descrições de lugares, espaços e poesias domésticas, desenvolvidas por Bachelard (1998), deixam de fazer sentido quando analisadas justamente pelas/os habitantes que são responsáveis pela manutenção da casa e pela criação de uma morada. Após a experiência da maternagem, de uma rotina fragmentada, do cuidado permanente e da vigília constante pelo bem-estar do outro, faz-se impossível ver a casa como Bachelard vê. Como veremos a seguir, as maternagens e a arte apontam para outras reflexões sobre os espaços da casa, nas quais questionam a estrutura da casa “universal” como espaço sagrado para reprodução e manutenção do capitalismo (Federici, 2017), mantenedora das relações hierárquicas intrafamiliares, que se estabelecem como “instrumento de controle e regulação econômica” (Foucault, 1988, p. 115), social e cultural. As vivências nesses espaços se apresentam como faíscas da criação, e, por isso, investigaremos como mulheres artistas-mães transformam suas experiências em imagens e fomentam debates imprescindíveis com o sistema da arte contemporânea, como Louise Bourgeois (1911-2010), que desenvolve pinturas de casas-corpos-abrigos-gaiolas; Janine Antoni (1964-) que propõe a casa-corpopisão; Carrie Mae Weems (1953-), que registra a potência para a discussão e debate em volta de uma mesa de jantar; ou como o grupo Maternal Fantasies, que usa o espaço da cozinha para realizar uma performance coletiva e ficcional, com suas filhas e filhos. Tais pesquisas poéticas apontam para reflexões sobre os papéis de gênero e a domesticidade no jogo cultural patriarcal da construção social em tornar-se mulher (Beauvoir, 2016), embutidas de uma estranha sensação de desvantagem na constituição das alteridades femininas, dos condicionamentos dos gestos, “delimitação sexual dos espaços” (Federici, 2017, p. 200) e funções sociais, como também na construção das questões que se inserem sobre a sexualidade feminina, a maternidade e a maternagem. Ao acessar as materialidades em ser-estar-mulher-mãe-artista, as maternagens abordadas por artistas-mulheres contemporâneas confrontam, através de outros enquadramentos-contextos, os processos socioculturais imputados aos corpos-mães. Nesse sentido, compreendemos a potencialidade em representar poeticamente a si mesma, o cotidiano comum aos espaços domésticos, “o trabalho doméstico não remunerado” (Federici, 2017), as atividades de cuidado, de educação e de administração do cotidiano familiar. Concentramos nossas análises, neste capítulo, na casa como um todo significante e a cozinha como cômodo estruturante de uma morada.
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